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A EDUCAÇÃO DO PONTO DE VISTA DE: BOURDIEU, DURKHEIM, MAX WEBER E PAULO FREIRE

Bourdieu: a escola e a reprodução das desigualdades.

Bordieu, contrariamente à inspiração marxista, não se foca especificamente na economia para  esclarecer as questões da educação, mas sim, na cultura. Ele diz que a educação fornecida pelas escolas utiliza os pensamentos da cultura dominante e, por isso, somente aqueles indivíduos que já tiveram contato com esse pensamento, em especial dentro do ambiente familiar, é que conseguirão acompanhar e se habituar ao meio escolar. Com isso, a escola não traria nenhuma possibilidade de superação de desigualdades, pelo contrário ela as fortificaria e confirmaria.
Um importante conceito transmitido por Bordieu é o de habitus, que ele define como a internalização e identificação no indivíduo das estruturas sociais e culturais em que ele está inserido. Desse modo, o habitus de um indivíduo corresponde a toda interação sócio-cultural dele. A educação transmitida dentro do meio familiar e internalizada pelo indivíduo se inspira na classe social a que este pertence. Como a educação escolar utiliza a linguagem cultural dominante, ela só poderá ser entendida pelos alunos que foram criados com base nela, se tornando indecifrável para os estudantes das classes dominadas.
Assim, Bordieu afirma que a escola não é transformadora e nem um modo de ascensão social, pois não muda a ordem existente, mas a reproduz e legitima. A reprodução ocorre pelo fato de uma cultura ser posta como universal, passando-se por cima das particularidades culturais existentes dentro de toda sociedade. A legitimação se dá quando a escola confirma, intensifica e consolida essa maneira de pensar, colocando o êxito escolar dos indivíduos com maior capital cultural como resultado de seu esforço pessoal (meritocracia), sendo que, os que não possuem esses privilégios não têm, na escola, qualquer acréscimo intelectual à sua vida.

A Educação segundo Durkheim

A educação para Durkheim é vista como um fato social e cultural. Sendo assim ela é coercitiva, ou seja, é imposta às pessoas. A educação seria responsável pelas atitudes e ações dos indivíduos na sociedade. Sendo assim cada sociedade forma o tipo de homem que deseja e necessita.   Na visão de Durkheim as pessoas tem incorporadas em si dois seres, o individual que se caracteriza pelos estados mentais de cada um e pelos aspectos de sua vida pessoal. O segundo é o ser social, voltado para os comportamentos relacionados à sociedade em que vivemos.
Do ponto de vista sociológico, a educação é a atividade de gerações adultas exercida sobre as gerações que ainda não conseguiram alcançar certo estado de amadurecimento intelectual, moral e social. Temos então para Durkheim uma socialização da criança, na qual consiste numa preparação do individuo para a vida social, cultural e moral. Ao longo da história, diferentes sociedades tiveram os mais diferentes sistemas educacionais. Os indivíduos são educados de acordo com as regras morais e sociais adotadas por cada sociedade em contextos e épocas diferentes, portanto existe uma educação para cada época e para cada povo. A educação é de cima para baixo, da geração adulta para a geração de crianças e adolescentes. Os mais novos só recebem o conhecimento, parecem vazios, nada tem a repassar. Já os mais velhos só transmitem, estão cheios, completos.
Para Durkheim a educação deveria ao mesmo tempo, ter uma base comum e diversificada. Apesar das diferenças sociais todas as crianças devem receber idéias e práticas, que são valores do seu povo, da sua nação. Essa seria a base comum da educação, pois contem os conhecimentos que deveriam ser compartilhados por todos.

A Educação para Max Weber

O conceito de educação não é um dos focos principais das obras e do pensamento weberiano, porém Max Weber embasado em suas metodologias e na tipologia da dominação legitima tece uma concepção sobre o conceito de educação e os tipos de educação. Os tipos de dominação legitima são tipos ideais, onde estes por sua vez são uma espécie de ferramenta ou recurso usado pelo cientista para abordar a inesgotável realidade social, e portanto, dos tipos de dominação legitima é que extraímos os tipos de educação, que são eles: educação tradicional, educação carismática e educação racional.
A educação tradicional é oriunda do tipo de dominação tradicional. A educação tradicional seria aquela embasada na manutenção de certo status de classe, ou de certo estamento, visando preparar o aluno para "uma conduta de vida" que pode ser religiosa ou mundana, mas sendo uma "conduta de estamento". A educação carismática é oriunda do tipo de dominação carismática. A educação carismática seria aquela praticada por religiosos e guerreiros, onde se tem o interesse ou a tentativa de despertar no individuo um carisma que ele já possui, mas que se encontra inoperante. E por fim temos a educação racional-burocrática que é oriunda do tipo de dominação racional. Este tipo de educação visa o treinamento e transmissão do conhecimento especializado e prepara o individuo já para o mercado de trabalho. Busca treinar os alunos para "finalidades práticas úteis à administração", tanto na organização das autoridades públicas, quanto nos escritórios, oficinas, laboratórios industriais, exércitos disciplinados.
Os dois primeiros tipos de educação são raramente encontrados hoje em dia, pois eles eram mais facilmente encontrados em sociedades antigas ou até mesmo pré-capitalistas. O tipo de educação que presenciamos hoje é o tipo racional-burocrático que é típico da sociedade capitalista e oriundo da dominação racional, pois hoje encontramos a burocracia em diversos pilares da nossa sociedade e encontramos ela também na educação moderna.

Paulo Freire
  
“Ninguém educa ninguém, os homens aprendem comunitariamente.” (Paulo Freire)

Paulo Freire concebe a educação em situação dialógica, negando a concepção “behaiviorista” - onde o condicionamento anula qualquer possibilidade de reciprocidade na relação pedagógica -, dá-se assim, a importância do diálogo potencializando a reflexão e a ação.
O homem é um ser inacabado, um ser em movimento, sendo concebido o seu desenvolvimento somente no coletivo, e não individualmente - fora de seu contexto e das suas relações sociais. Cabe acentuar a intencionalidade da consciência, um conceito que permite a Freire expor a condição da consciência voltada para realidade. Portanto, a “conscientização” está no movimento do pensar e atuar, implicando na compreensão das questões sociais e, posteriormente, a intervenção, buscando a liberdade.
A Pedagogia do Oprimido - principal obra do autor - expõe as práticas pedagógicas de caráter tradicional - onde o educador é o que ensina, o educando o que aprende – as quais recebem o título de Educação Bancária, onde o educador “deposita” no educando seus saberes e através de provas, etc, e saca-o, negando a humanidade do educando, negando os seus saberes, instituindo uma relação entre opressores e oprimidos. Esta relação atribui aos oprimidos a missão de recuperar sua humanidade e também de libertar os opressores de sua condição desumanizada. O ideal de Paulo Freire é a prática pedagógica que valoriza a humanidade do educando, sua contextualização, suas relações sociais, potencializando uma compreensão do educando de que o conhecimento deve gerar novas capacidades pessoais - já que o sujeito se encontra no mundo, com o mundo, sendo parte dele. A pedagogia do oprimido consiste no diálogo, o que proporciona transformação social. Em outras palavras, realidade social é construída pelo sujeito e, modificando-se este, a mudança social será uma conseqüência.
O conceito dialético para Freire é fundamental, pois, este acentua a reciprocidade da relação pedagógica e modifica-se, assim, o mecanismo de aprender, através da construção coletiva do conhecimento. Freire classifica opressão como uma situação de “sufocamento”, na qual tanto as habilidades humanas quanto como a possibilidade de criar-se o novo são anuladas pelo sufocamento dos saberes implícitos. A negação de valores do oprimido que não é considerada pelo método pedagógico tradicional. Portanto, cabe aos oprimidos liberta-se de tal opressão. Sobretudo, Freire sublinhava o fato de que nas relações entre educandos e educadores, por muitas vezes os educandos interiorizam o opressor, como recipiente onde aloja-se o opressor e seus saberes depositados, mantendo assim a ingenuidade do oprimido. O opressor (educador bancário) é aquele que sabe, ensina, pensa, o sujeito atuante no processo de aprendizado.
A Educação Problematizadora entende o conhecimento somente na ação, na intervenção. Demonstrando a fonte Marxista de Freire; o conceito de práxis em Marx, onde teoria e prática devem andar simultaneamente, “onde a teoria, quando apoderada pelo povo torna-se uma arma” é de extrema pertinência ao processo de produção do conhecimento e da reciproca aprendizagem (educador e educando). O “Educador Problematizador” busca na relação pedagógica a valorização dos saberes do educando, assim como a pertinência dos saberes socialmente construídos. Desta maneira, a produção dos saberes torna-se conjunta, não uma pratica engessada, onde não há reciprocidade.
É inerente ao processo de produção do conhecimento o método. Este método deve negar a cartilha da pedagogia tradicional - cuja limita a construção e reduz o processo em mera técnica. O método de Paulo Freire consiste em etapas: investigação, tematização, problematização. A investigação é o processo entre professor e aluno pela busca das palavras - palavras geradoras - e temas significativos da vida e do contexto deste aluno. A tematização é quando a intencionalidade da consciência potencializa a analise dos signos implícitos dos temas e palavras. A problematização é a etapa onde o professor, via diálogo, potencializa o aluno a transpor as visões mágicas do mundo, sendo assim, o aluno conscientiza-se.





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